domingo, 3 de novembro de 2019

Resenha do Livro As Valkírias - Paulo Coelho


Primeiro é importante deixar-los a par do que são as valkírias. De acordo com a mitologia: são seres divinos responsáveis por seduzir para a guerra, escolher quem morre e destinar os guerreiros mortos para uma espécie de paraíso.

Uma outra versão trata as valkírias na forma humana. É essa versão que está no livro e que dá nome a ele.

livro as valkirias - paulo coelho
Fonte: Divulgação (edição de 2014)

Ficha Técnica

Autor: Paulo Coelho
Editora: Rocco
Ano: 1992
Gênero: Romance, Ficção, Mistério, Literatura Brasileira
Tamanho: 154p

Sobre o Livro

Como o próprio autor conta na abertura, o livro As Valkírias conta parte de uma jornada espiritual do Paulo Coelho. O autor deixa claro que relutou muito em publicar esta história, tanto por ter muito conteúdo pessoal quanto por envolver outras pessoas, inclusive de sua esposa (Christina Oiticica - Artista Plástica). Quando resolveu publicar mudou um pouco os nomes e, não se sabe ao certo quanto, acrescentou pontos fictícios.

É interessante falar que o Paulo é o autor, narrador e personagem principal em boa parte deste livro. Portanto esta jornada é contada sob sua visão de mundo e seus aprendizados. Mesmo assim o autor não se coloca na posição de mocinho, como fazemos diariamente nas nossas vidas particulares.

O livro começa com uma reunião do Paulo Coelho com o seu mentor espiritual ao qual é muito enfatizado o sucesso financeiro. 

Em viagem na busca do "seu anjo" Paulo leva sua esposa, por motivos não muito próprios. E é neste cenário de casamento abalado, discussões e falta de empatia que a busca espiritual do autor se dará.

Primeiro eles conhecem um outro discípulo do mentor dele. Ai já começa o aprendizado do autor. Por não passar de um discípulo - o que lhes igualaria em questão teórica - o personagem principal não confessa, num primeiro momento, a experiência mais crescida que tem este outro discípulo e - por uma questão de vaidade - passa a menosprezar as falas deste. 

Quantas vezes não fazemos isso na nossa vida não é verdade? Quantas vezes deixamos a vaidade falar mais alto e odiamos aqueles que têm algo a nos ensinar?

De qualquer forma um discípulo não pode ensinar a outro então o discípulo mais experiente passa a ensinar o Paulo indiretamente, usando a esposa deste. Embora não o faça de bom grado, o texto deixa parecer que "os santos dos dois não se bateram". Mas não sabemos até onde isso é verdade e até onde isso é apenas a visão do Paulo que o bloqueou inicialmente por vaidade ferida.

É muito importante saber que este anjo, ao qual o Paulo Coelho buscava à época, é algo muito parecido com os sinais falados pela "linguagem universal" contados no livro O Alquimista. Recomendo que leia a obra antes.

Lógico que esta viagem na busca do "seu anjo" não poderia ser nas Ilhas Maldivas. O deserto (Mojave) pareceu um lugar mais amigável para se encontra-lo. O que remete ao sacrifício e esforço que se faz para atingir este objetivo.

Logo no início da jornada o casal protagoniza uma cena que seria muito engraçada se o autor quisesse contar desta forma. O casal vai se permitindo algumas coisas no deserto que parecem inofensivas para quem não entende o lugar. Passam a presenciar coisas maravilhosas e espirituais, mas, não fosse o aparecimento de outros personagens, estariam mortos em poucos minutos.

Este próprio evento do resgate foi tema de discussão entre os discípulos. Eram muito simples as pessoas que os resgataram, não parecia - aos olhos do Paulo - um milagre. Porém o conhecimento que estes traziam sobre o deserto, a feita de aparecerem quando quase não havia mais volta e somente o fato de aparecerem num local remoto é o que o autor não conseguia enxergar.

Enfim aparecem as Valkírias. Eram as destinatárias do anseio de Paulo porque este cria que elas seriam as responsáveis de o levar ao "seu anjo". 

Ai vem a luta interna da mulher de Paulo que teve que engolir seus ciúmes e vaidades para que o marido conseguisse seguir na jornada. Não foi nada de bom grado. Muito pelo contrário. Custou e doeu até que ela conseguisse ao menos respeitar a busca do marido.

Todavia logo estava ela, também, inserida nesta busca. No começo muito mais para vigia-lo. Mas com o tempo ela também foi aderindo à sua própria busca e é interessante o olhar dela (católico apostólico romano) sobre esta busca. Também ela passa a compreender melhor conflitos internos.

Uma cena que marca muito é quando ela assiste a uma espécie de prova que o marido passa. A prova envolve uma outra moça e o marido tem que deixar expressar-se verdadeiramente. Neste ritual, a esposa vive uma espécie de iluminação quando percebe que os ciúmes que sentia no começo do ritual dividem espaço com a compaixão, a compreensão.

É neste ritual que o Paulo revela o conteúdo de magia negra de sua obra musical com o Raul Seixas. Uma delas em especial, "Sociedade Alternativa". Ele diz:
"Não era uma música - era um mantra de ritual mágico, com as palavras da Besta do Apocalipse sendo lidas atrás, em tom baixo. Quem cantasse aquela música estaria invocando as forças das trevas. E todos cantavam."
É neste ritual que ele se perdoa disso.

Após isso a boa notícia é que o autor encontra o "seu anjo". Uma outra, que por si só não é boa nem ruim, é que não foi da forma que o autor esperava. Foi simples. Singelo. Quase que imperceptível. O que nos faz refletir que para muitas vezes a preparação espiritual não serve para nos elevar até a mais alta montanha para que possamos, enfim, ver a divindade. Sim, para condicionar nossa atenção para as coisas espirituais que nos rodeiam a todo momento, mas que insistimos em não ver.

Conclusão

É um livro bom sim. Não é excelente. Recomendo que leia o alquimista antes. É uma leitura com o mesmo fim - de contar a história da busca espiritual - todavia escrita de uma forma e em situações totalmente distintas.
Além disso, recomendo que dê uma estudada sobre o mito das Valkírias antes. Assim sua leitura vai conseguir fluir com mais rapidez. Comentei brevemente sobre o mito no nosso podcast:






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